Quando seguramos uma fotografia nas mãos, quantas vezes não desejamos, mesmo apenas por um breve fotograma, que os seres fotografados saltem da sua pose de estátuas para a vida, ressuscitando numa imagem de carne e osso? Mas parecendo que adivinham o que iria acontecer, esses seres não se mexem um milímetro sequer no rectângulo da fotografia. Sabem que, do lado de cá, não encontrariam com quem falar. Também nós já não somos a pessoa que éramos no dia em que aquela imagem ganhou vida, para que o real desaparecesse ali, mesmo diante dos olhos do mundo. Somos outras fotografias animadas que, deste lado do papel, se agitam com gestos imperfeitos, não compreensíveis para as estátuas. Podemos fazer todos os gestos do mundo, excepto tirar os seres fotografados de lá, do sítio onde ficaram para sempre, depois de partirem para outro lugar. Mesmo depois de partir, nunca te deixo - dizem, sem mexer os lábios, enquanto repetem um gesto imóvel até ao cansaço.