A vida é uma interminável colecção de fotografias. Não daquelas que estão espalmadas nos álbuns das mães, presas à agenda de bolso dos pais ou que trazemos coladas na memória, algumas delas já com cantos dobrados e tons desbotados. São fotografias com corpo e relevo bidimensional, um eterno presente que acompanha a vertiginosa experiência de correr em direcção ao infinito. Somos imagens com seres lá dentro, que sobem as escadas do tempo, dobram as esquinas da vida e rasgam a pele porque o coração às vezes doi. O caminho para a escola tem uma seta invisível onde não se pode ler “vida” e os livros na mochila tornam-se cada vez mais pesados. Ou serão os medos? Perde-se uma bicicleta, depois de se ter perdido um triciclo e um berço, para se ganhar uma mota. O amor é um acidente do destino à boleia na estrada e a experiência, definitivamente, não serve à ciência. A vida tem altos e baixos: voa nos céus, mergulha nos oceanos, escava-se na areia, constrói-se no papel. Só há tempo para tudo ser único e somos sempre mais e menos do que parecemos. Cada fotografia é a primeira: congela o momento inaugural. Um divino olho cósmico (talvez Deus seja uma máquina fotográfica omnipresente e omnisciente) revela tudo o que nasce. É preciso perder a memória para continuar a viver. A história de cada nome acontece dentro da moldura da vida. Tanto melhor, se houver uma Olympus Pen por perto, para a escrever. Quantas fotografias conta a tua vida? E se tivesses de escolher uma, qual seria?