As palavras são pequenos pontos de luz. Rainhas brancas que jogam ao sentido com o interlocutor. Berlindes disfarçados de pérolas que se agarram ao pescoço como minúsculos olhos de vidro. Pequenos corpos assombrados por vidas passadas que embrulham o silêncio. A realidade vive atrás das palavras, que nasceram noutro lugar. A repetição insistente de uma palavra familiar torna-a um corpo rugoso e pontiagudo, rasgando a sua fina película de sentido. Quando partem o fio do discurso, as palavras perdem-se entre os dedos e fragmentam-se ao tocar no chão. É por causa das palavras que as mãos sofrem de uma melancolia crónica. Acreditam ser elas que as inventam e desfazem, esquecidas de que o silêncio nunca é igual e vai mudando por causa das palavras. As palavras abraçam o silêncio até ao delicado ponto em que o poderiam estrangular. Elas sabem que apenas dizem o indizível.