terça-feira, 13 de outubro de 2009

O silêncio

Silêncio. Assim não consigo ouvir o meu pensamento. E pensar é falar com o volume do som no zero. Embora por vezes me admire com o facto de ninguém conseguir ouvir os pensamentos que ribombam como tambores na minha cabeça, tanta é a nitidez com que os oiço. Quantos decibéis tem a batida de um tambor? O toque de um sino? O zumbido de uma abelha? Um segredo encostado ao ouvido? Um estalido sobressaltado no soalho de madeira? O borbulhar de uma lata de Coca-Cola acabada de abrir? Uma história zen contada num mosteiro? O avião que acabou de fazer estremecer o prédio lá do alto da noite? Sei que há uma tabela para todos estes sons com um, dois ou três dígitos. Mas quantos decibéis tem um pensamento? E quantos decibéis tem o silêncio? Não me digam que o silêncio espada que corta, reluzente, o ar tem o mesmo som do silêncio algodão que afaga, como uma carícia escorregadia, a pele. Ou que o silêncio intervalo luminoso entre as palavras de um poema é igual ao silêncio fantasma dos ruídos familiares. O silêncio não é a transparência sonora, é antes um ser habitado por sombras falantes, mais ou menos opacas. Alguém pode inventar uma máquina para pesar silêncios? Ou, pelo menos, um dicionário silêncio - palavras?