Parabéns, Ludwig ! Faz hoje 120 anos que nasceste. Não te esqueças: se alguém te perguntar que idade tens, é isso mesmo que deves responder. Tens 120 anos, o que fará de ti, sempre, um recém-nascido ao pé de Sócrates, mas um velho sapiente junto de Umberto Eco. Quando nasceste, Picasso tinha oito anos e já era uma criança prodígio. Quando nasceste, Fernando Pessoa tinha 10 meses e aprendia a gatinhar, ignorando desassossegos ou heteronímias. Quando nasceste, em 26 de Abril, nasceram nesse mesmo mês dois ditadores: Salazar e Hitler. Hitler adiantou-se seis dias a ti e Salazar atrasou-se dois. Quem diria, tu no meio de dois ditadores. Mas a História tem algo de cómico e dez dias antes de ti tinha nascido Charlie Chaplin, que talvez te tenha feito rir muitos anos mais tarde. Quando nasceste, a Torre Eiffel tinha sido inaugurada poucos meses antes, na mesma cidade em que nasceu, nesse mesmo ano, Jean Cocteau. Em 1889, os deuses deram vida a outro filósofo, talvez para teres um interlocutor com quem discutir: Martin Heidegger. Mas os vossos caminhos feitos de madeira e pensamento foram diferentes. Quando nasceste, o teu irmão Paul já era uma criança triste. Quando nasceste, decidiste que ias ser filósofo, embora pudesses ter sido cientista, jardineiro, arquitecto ou inventor. Decidiste escrever um tratado, esquecido de que a lógica esgota a esperança e que pensar é uma actividade de funâmbulo. É preciso acreditar que não se vai cair do fio do pensamento. Afinal, ele é feito de frágeis, escorregadias e ambíguas palavras. Mas isso, sabes tu melhor do que ninguém. Na hora da morte, disseste: "Tell them I had a wonderful life". Há vidas em que apetece acreditar.