segunda-feira, 5 de março de 2012

Casa assombrada


William Friedkin, o realizador de O Exorcista, tinha-se cruzado com L’Empire des Lumières no Moma. Foi a luz dramática do candeeiro de rua, por contraste com o azul do céu do quadro de René Magritte, que inspirou o candeeiro colocado à porta da casa onde se dão estranhos acontecimentos e que seria a imagem do cartaz do filme. No perturbante quadro, o fantástico resume-se a este paradoxo visual: a simultaneidade do dia e da noite. Será dia? Será noite? Quem estará em casa, no andar de cima? A luz natural e a luz artificial estão presentes, como se a noite e o dia tivessem deixado de se esconder um ao outro, revelando-se nesta imagem que parece ter vida dupla. Apesar de tanta luz, há algo de incómodo na temperatura da paisagem, que provoca um arrepio como só os fantasmas sabem. Talvez seja a descoberta de que, mesmo abrindo a porta à luz, não conseguimos expulsar os nossos demónios.