sábado, 18 de fevereiro de 2012

Incompleta nudez

Gostava de saber se ele ainda é vivo, o homem de idade incerta, mas ainda jovem, que no Maio de 68 caminhou nu, completamente nu, com uma nudez sem culpa e o corpo ligeiramente bronzeado, em direcção à Bastilha. Ignorou quem o olhava, ignorou os vestígios do gás lacrimogéneo, ignorou as barricadas. Despojado de referências, despido de signos, sem nome ou bilhete de identidade, entrou sem qualquer resistência para o carro da polícia. Mas a neutralidade da sua nudez não foi suficiente. Conseguiram descobrir que tinha incendiado a sua casa, apagado todos os vestígios do seu passado e a sua nova morada era o silêncio. Mesmo assim, conseguiram vesti-lo com um pouco do seu passado. Talvez a verdadeira nudez só seja possível na invisibilidade.