sábado, 11 de fevereiro de 2012

Omelete melancólica


Até o mais poderoso homem pode estar prisioneiro da sua memória. Como o rei melancólico de que fala Walter Benjamin nas suas Imagens do Pensamento, que exige ao seu melhor cozinheiro a reprodução de uma omelete de amoras feita por uma velhinha (seria feiticeira?) e comida na sua infância na companhia do seu pai, quando se refugiaram e perderam numa floresta escura. Se o cozinheiro fracassasse, seria condenado à morte, se fosse bem sucedido, ficaria com o seu trono. Apesar de conhecer todos os ingredientes e modo de preparação da receita da omelete de amoras, o cozinheiro reconhece que nunca poderia igualá-la. Faltar-lhe-ia o sabor do perigo e daquele presente incomum, que antevia um futuro incerto. O segredo da omelete de amoras era ser um objecto (perdido) na floresta do desejo.