sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Indisponíveis para amar

Eles são jovens e belos, mas não conseguem apaixonar-se um pelo outro. Recém-separada, Vittoria (Monica Vitti) tenta formar um par amoroso com o corretor da sua mãe, Piero (Alain Delon), que vive sufocado pela rotina e pelos números. Na bolsa de Roma, onde o coração não está cotado, as pessoas falam alto mas não comunicam. Na vida, onde o coração parece congelado, o amor não é possível e a lucidez magoa. “Certos dias, uma mesa, um tecido, um livro ou um homem, é tudo a mesma coisa”, diz Vittoria a uma amiga. Vittoria e Piero sentem-se desconfortáveis com a intimidade, que lembra uma roupa que não lhes assenta. Não estão bem em lugar nenhum, nem no silêncio que tocam, nem nas palavras que trocam. “Talvez não precisemos de nos conhecermos para nos amarmos. Talvez não precisemos de nos amar”, diz Vittoria. Em casa dos pais de Piero, comenta que ele a trata como se fosse uma visita e mais tarde, em casa de Piero, Vittoria repara que no abraço deles há sempre um braço a mais. Deitados num campo bem longe da bolsa, observando a paisagem, Piero diz ter “a sensação de estar no estrangeiro” e Vittoria responde: “Que estranho, a mim és tu que me provocas essa sensação”. Combinam encontrar-se todos os dias, mas a noite cai e nenhum deles aparece. Os cenários - a passadeira junto a um prédio em obras, os descampados e outras paisagens fantasma, permancem. Eles, eclipsaram-se. O eclipse deixa uma sensação de frio e no fim, apetece vestir um casaco como se fosse um abraço.