Passaram já 50 anos sobre esse dia. Embora não fosse muito provável, Albert Camus podia ainda estar vivo. Contaria 97 anos. Mas para isso, era preciso ter usado o bilhete de comboio encontrado no bolso do casaco, quando o seu cadáver foi retirado dos destroços do automóvel em que seguia para Paris. Uma mudança de ideias à última da hora determinou a troca da planeada viagem de comboio pelo carro veloz do editor Michel Gallimard, que veio a colidir com uma árvore, provocando a morte imediata e prematura do escritor francês aos 47 anos. O que teria acontecido se Albert Camus tivesse seguido de comboio? Quantos anos mais teria vivido? Além do romance inacabado O Primeiro Homem, cujos manuscritos foram encontrados na sua mala, quantas obras deixou por escrever? Que títulos teriam? Quantos cigarros deixou por acender? A imaginação tinge-se de preto. Foi o destino, pensamos, esquecidos de que o destino é o nome que damos a tudo o que aconteceu. O destino é tudo aquilo que já não conseguimos imaginar não ter acontecido.