As fotografias têm formato standard para que seja fácil encontrar uma moldura que lhes faça companhia. Uma multiplicação simples de centímetros em madeira ou metal abraça o corpo de papel. A solidão, não. É da ordem do peso invisível, uma balança que dá números negativos e tira medidas a ausências subjectivas. Todas as fotografias trazem uma solidão que não cabe no seu corpo nem se pode encerrar numa moldura. Como se na própria fotografia, um olho invisível, furado na pele de luz e sombra, deixasse transbordar o olhar que estende as mãos. As fotografias a preto e branco são ainda mais solitárias do que as outras. Falta-lhes a presença do real, com as suas reconfortantes cores. Concentram o essencial, ampliam a solidão e dizem ao tempo que não as pode emendar na sua irrealidade a dois tons. Lembram a cama de casal onde dois corpos encontram sempre espaço para não se tocarem. Nunca apetece tanto imaginar um pensamento como quando ele se esconde a preto e branco. É como se tentássemos ver um sonho que não nos pertence. Todas as fotografias pedem ao olhar: encontra uma legenda para mim, sei que me sentiria menos só na companhia de algumas palavras. Porque será que as molduras não trazem alguns centímetros a mais, onde caiba pelo menos um adjectivo que ilumine e faça companhia à solidão revelada?