O leque é uma pequena cortina móvel no teatro de uma conversa. O leque é um objecto teatral e é sempre indiscreto. Mostra descaradamente que está a esconder. É uma mão de seda com muitos dedos bem coreografados. É um gesto com cerca de 30 centímetros que se imita a si próprio enquanto faz o trabalho da invisibilidade. Não deixa ler o segredo que se está a dizer. Não deixa ver as imagens que permanecem por traduzir. Não deixa que alguém entre neste recanto da história. Ondula as palavras, dá corpo ao sorriso, coloca o tempo na penumbra. Diz que o silêncio se estende na linha do seu horizonte arredondado, lá onde se estilhaçam os cristais das palavras. O leque, máscara flutuante, concentra toda a malícia no olhar. Mas também, além de mim, quem acredita que um coelho possa falar?